terça-feira, 17 de maio de 2016

ILUSÃO OLÍMPICA

Não surpreende a notícia de que as obras na Vila dos Atletas estejam embargadas. Surpreende menos ainda, saber que o embargo se deu por motivos trabalhistas. O Ministério do Trabalho e Emprego realizou uma série de vistorias nas obras para as olimpíadas e encontrou diversas ilegalidades, desde falta de segurança até desrespeito às leis trabalhistas.
É assim quando obras são feitas à toque de caixa e com limites apertados. O Rio de Janeiro não se preparou para os Jogos Olímpicos. Não houve seriedade no planejamento, tampouco respeito à coisa pública. Sim, porque os investimentos feitos são privados, mas, prioritariamente, são públicos. E mesmo que as verbas não tivessem origem estatal, as obras são de interesse do povo. Portanto, deveriam levar em consideração esse aspecto.
Além desse enfoque político, há um outro lado, muito mais grave, que não é levado em consideração quando se desrespeitam às normas de segurança do trabalhador. Nada menos do que onze trabalhadores morreram nas obras para as Olimpíadas. São onze rostos e nomes desconhecidos. Eles não serão lembrados na festa de abertura, dia cinco, no Maracanã. Suas famílias não sentirão orgulho de ver um de seus empunhando o fogo olímpico.
Apenas como termo de comparação: para as obras da Copa do Mundo, que mobilizaram o país inteiro, forma registrados oito mortes. As oito mortes não são menos absurdas, mas deixam ainda mais gritante o absurdo que acontece no Rio de Janeiro.
O jogo de empurra, nesse e em outros casos, é uma espécie de modalidade olímpica aqui no Brasil. O agente público brasileiro, de forma geral, é medalha de ouro nesse certame. Eduardo Paes, que se especializou em ser cara de pau, culpa o governo federal pela falta de apoio e de recursos para a execução das obras. Diz o alcaide que ficou com o pires nas mãos. Ora, o que é isso senão falta de planejamento?
São essas irresponsabilidades que fazem com que trabalhadores fiquem desprotegidos e morram nos canteiros de obras e que ciclovias desabem sobre o mar, causando mortes não menos trágicas. Essa é uma associação tão óbvia que me causa constrangimento fazê-la. Constrangimento não é um sentimento próximo de nossos agentes públicos. Eles dissimulam e inventam, descaradamente, subterfúgios para fugir do inevitável.
Em 2014, entidades esportivas de todo o planeta estiveram reunidas em Genebra, Suíça, denunciando as obras procrastinadas no Rio de Janeiro. O documento elaborado falava em organização para olimpíadas mais atrasadas dos últimos vinte anos. Chegou-se a pedir um plano B, caso a cidade não desse conta do recado, opção que não foi levada adiante.
Há uma série de compromissos que impossibilitam a transferência de local dos jogos olímpicos. Imaginem o prejuízo financeiro que isso não traria para o próprio Comitê Olímpico Internacional. Apoiada nessa certeza, a Prefeitura e todos os agentes públicos seguem adiante, estampando um sorriso de escárnio, enquanto morre gente.
A despeito dos R$ 39,5 bilhões gastos na organização do evento, de acordo com a própria Autoridade Pública Olímpica, as condições precárias das obras e a forma atabalhoada com a qual são inauguradas saltam aos olhos. Dirão os mais conservadores: "é assim mesmo. Em todos os países foi assim". Esse é um argumento conformista e indiferente ao nosso momento atual. Nosso país não pode se dar ao luxo de passar por um evento deste e não ter nenhum benefício em troca, além de um VLT e de uma linha de metrô incompleta. É pouco!
Londres, por exemplo, gastou mais do que o Rio de Janeiro deve gastar. A capital inglesa investiu cerca de R$ 65,3 milhões, nos valores atuais. No entanto, os jogos olímpicos nunca foram a esperança do povo londrino para dias melhores. Eles não precisaram sediar os jogos para revitalizar uma cidade inteira, construir estações de trens, etc. Dinheiro das olimpíadas em Londres foi destinado aos jogos e a algumas melhorias pontuais. E, sobretudo, não houve corrupção, esse mal que corrói tudo ao redor por aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário